quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

a vontade masca a cara
e cospe
uma massa informe no lugar
cada pessoa tem um bolo
alimentar mal cheiroso
engruvinhado os garotos
perdidos atrás dos ex
rostos lambem
o que podem

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

a carapuça serviu
pra todo mundo
menos pra ti
saco
de supermercado na cabeça
suprimentos básicos
leite condensado
a carapuça é doce
mas não é biodegradável
não
a corrente a leva
no oceano pacífico
tem um continente

feito só de carapuças
de plástico
o fim
tá vivo
pula morde
encontra o começo
morto no asfalto
na tumba na foto
deixa saudades
da esposa e dos filhos
quebra
o esqueleto
nasce um monte de novo
começo que nem aquelas vespas
na lagarta
crescem comendo o
fim

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

taí
um dia
eu fiz tudo pra você

os poemas sobre ônibus
que nos levariam apertados
uma tarifa cara pra um lugar
da cidade em que não queríamos chegar
fazer o quê
eu fiz tudo
um rio intermitente represado
os peixes mortos na barragem
soltam aquele chorume nesse calor
fica ainda mais fedido
você tem

você tem
que me dar um rio um peixe
um ônibus novo que leve
pro coração de janeiro
uma cara
voltada pra fora
a outra no meio
do sucesso uma casa
no campo três orgasmos
na garagem um poema
pronto
pra outra

taí

sábado, 22 de fevereiro de 2014

não dá pra escrever
de bexiga cheia a barriga vazia
esperando a polícia com um prego
no pé as mãos amarradas cabeça também
pistola na nuca analfabetismo trauma no
crânio pavor do pior fica muito
difícil escrever desse jeito

já na cama num sábado
embaixo dum teto com água
no copo e o corpo perfeito sabendo
que amanhã
será domingo quantos versos
posso fazer e nem sei para que servem

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

do alto
da ovelha o monte
acolhe a
cruz que ergue
embaixo
da coroa os olhos
para o céu

dos ecos
daquelas palavras
gritadas se escuta
um sopro
secando os ouvidos da passagem
do pedido

nos
nossos braços
de repente se arrepia
dor e abandono
um dia sentidos
às costas o medo
de ouvi-lo e não ter feito
nada

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Salmo 5

Sôbalas
lágrimas
que risos alegrarão
a nova língua de Sião
enchentes dores de gripe
tumores mudança climática
amarrai a flauta no rabo
ó macacos
vossa hora corre e afoga

Salmo 4

Quem
verá o domingo
de trás
A expectativa do Senhor
é meu jugo
de naranja
Quem terá
a vitamina final?
O Senhor é meu vírus
meu gominho

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Salmo 3

Assim cantou Davi
com a boca seca do Tenofovir
ou do Efavirenz
Além das terras que o Senhor Teu Deus
Te Deum

Rimava Lamivudina
com Vagina ou Novalgina
Ai de vós fariseus
que da terra de São Paulo
tomastes o dinheiro
e o vírus dos portenhos
Ai de quem é vivo
teimoso e tem insônia
lhe darei uma boca
seca como o cu do camelo
estas foram as palavras
do Senhor Teu Deus
num dia ruim

Salmo 2

Lâmpada para os pés
de um milhão de bactérias
Ai de vós frieiras
pé de atleta é tua palavra

Debaixo da capa de gordura
músculos jamais fortalecidos
nas práticas do mundo

Autofelação
Tu e toda
a Descendência de Abraão

Salmo 1

Ó viestes
aí não veio

Fizestes de mim
travesseirinho do infazível
cheio de agulhas
e lembranças de menino

sangue
ejaculação
malditos sejam teus não filhos
e os não filhos dos teus não filhos

esta é a palavra
que o Senhor
Sim,
Senhor
era uma vez
eu era triste
mas aí uma noite
eu já não era
outra vez
eu era amém
numa vida
veio a outra
ia dizer "ficou
a mesma" mas
quem sabe
pode ser que era
outra mesmo
ouvia punk
escova os dentes
escolhe os crentes
viveram assim
pra sempre