quinta-feira, 30 de novembro de 2017

eu fico assim
espalhado pra não ser
sempre eu mesmo
recolhido pra não ser
movimento
entropia sem querer
sem um centro

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

lamento

São muitos os caminhos
do inexato

tropeçam uns nos outros
passos largos

e buscam um momento
certo

de ter uns aos outros
perto.

Coitados de nós
tão delicados

os joelhos ralados
escorrendo

sem colo nem descanso
mas exaustos

tentando chegar
do outro lado

cilada

No inexato habitam
as cracas do espírito

que bom, corpo,
em nódoas e metástases

cálculos catarros e fezes endurecidas
você livre dessas porqueiras

depois de morto se dissolve
e Deus me manda para o Inferno

você não soube - ele diz - o tempo todo
nada se pode fazer

contra o Correto.

domingo, 26 de novembro de 2017

o sistema de recolhimento de esgoto
não interessa aos cachorros

os meus até comem aquilo
que sai de dentro do corpo

que gosto estranho gostar
de merda depositada no azulejo

como num prato perfeito
a matéria morna e presente

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Te digo, meu filho:
todos os bichos estão extintos
se você acha que o cachorro
latir é uma prova de vida
o rato e a barata
coxas de galinha
deixando pegadas de carbono
em cada rocha densa
eu me preparo
pra você
um dia findo
como eu
indo até o futuro
do buraco em que o planeta vai cair
você nem veio
e já te tenho
saudades


domingo, 12 de novembro de 2017

Se fica parado muito tempo
em volta do corpo surgem bichos
querendo fazer casa e alimento

Mova-se ou será comido
coma tudo que para
nada escapa do ciclo

É bom saber que sempre
alguém vai me querer
verme inseto ou gente

Bicho do asfalto, bicho do mato
planta minério ou vácuo
tempo concreto, tempo abstrato

sábado, 4 de novembro de 2017

laika

o rabo abanando
e a língua pra fora
da atmosfera
você foi embora

uivando no vácuo
na noite pra sempre
você morre
no espaço pra sempre

ninguém mais escuta
você latindo
na busca perdida
de um amigo

e eu vou sumir
antes que acabe
a sua viagem
de volta pra casa