quarta-feira, 30 de julho de 2014

queria um contorno desaparecido entre as palavras e os corpos
e as bombas que jogam e o chão em que caem
os poucos que buscassem saudosos o contorno logo esqueceriam
contemplando as cores largas mergulhadas na matéria livre
aí o anseio
insistente de não viver
o dia ao contrário poderia naufragar
docemente como num poema italiano que a lembrança
não aparece mas que eu lia e me fez
uma vez sentir assim

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Cava
no tempo um caminho
e constrói um túnel
chamado vida

exposto
ao subterrâneo
origem do escuro
rede de esgoto

aberta
às luzes do dia
pelos bueiros
do saneamento

deixa
que o cheiro ventile
entre a merda e os ratos
chama-a de casa
Regrida ao útero e conte
o correspondente do que em mim é hoje
saber a própria dúvida

quando o acúmulo
de mucosas começava
úmido, possível, placenta

então retorna e ensina
a resposta anterior à pergunta
o desejo dormente da vida

terça-feira, 1 de julho de 2014

Pergunta

no mínimo da pedra da estátua
um som se produz pelas partículas
e ecoa no meio do movimento
de elétrons prótons e nêutrons

se o vazio da pedra é o mesmo
que existe entre as células líquidas
que percorrem meu corpo enquanto
eu penso na morte da matéria

existe no duro da estátua
um vento de dúvida igual
ao que me sopra através da vida?

e eu tenho guardado no meio
orgânico corpo agitado
algum pétreo, pacífico, silêncio?