O governador Geraldo Alckmin se viu sem roupas as mãos cobrindo as vergonhas na cara que ele não tinha e pensou o que estou fazendo aqui, era o último habitante da cidade de São Paulo, que de resto estava como sempre esteve, só que nada funcionava. As capivaras olhavam o governador tropeçar margem acima do Tietê alcançar a ciclovia vermelha e os pés pelados no asfalto e as capivaras voltaram a olhar o horizonte lixo. Geraldo Alckmin estava sozinho, sem helicópteros que o salvassem, sem seguranças sem shoppings fardados, é triste ser o último homem de São Paulo, mais triste ainda ser Geraldo Alckmin.
Com trinta e nove graus nas solas dos pés ele cruzou as avenidas a ardência na careca os testículos escondidos entre os dedos a educação católica não deixava ele sentir as coisas boas, o mormaço materno à rara sombra, o silêncio de milhares de quilômetros sem carros e sem pássaros nem crianças nem serpentes, pense senhor Geraldo Alckmin, se fosse o primeiro homem nesta terra há dois mil anos, quanto medo o senhor teria, quantas serpentes!
A vidraça foi quebrada com cocos no Bom Retiro e da loja popular ele pegou um short uma camisa e sandálias de borracha cuja procedência absolutamente nos escapa, tudo passa pela Amazônia, seringueiros, pau de arara? Multinacionais trabalho escravo análise de mercado? E elas seriam suficientes pra andar até o Palácio? E que teria acontecido com a cidade de São Paulo, catorze milhões de pessoas evaporadas e um governo desnudado inconsciente às margens do rio de pedra? O governador Geraldo Alckmin se perguntava muitas coisas, e de tanto murmurar ia ficando desidratado.
No Morumbi, já à noitinha, pulou portões caiu barranco e olhou espantado o céu escuro sem nuvens nem estrelas, o Palácio amarelado agora a seu alcance, mas que cansaço, o peito mais que ofegante, sua boca seca como a cabeça. Sabia que o cérebro flutua num líquido claro? O quente gostoso do piso do estacionamento amansava as suas costas. Ele quase adormecia quando três bombas de gás lacrimogêneo caíram ao seu lado.
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