sábado, 7 de fevereiro de 2015

crescendo
como as coisas
que não preveem
a própria morte

a árvore
se encheu
de galhos e folhas
e pequenos bagos verdes

e à força
dos ventos
e das chuvas e do centro
do planeta

ela pendia
ameaçando
desprender-se
do chão

o tronco dela
se tornou mais fino
as raízes
eu não sei

e com tesoura
e precisão
e com bondade
eu a cortei

os galhos novos
e pesados despencavam
entre os pulos
de alegria do cachorro

e a árvore
sem sinal
e mutilada
endireitando

quando enfim
pensei "salvei"
ela reta, em queda
para o alto

e o cachorro
focinhava as folhas
e os frutos verdes amontoados
sobre o chão

percebi
que a morte
da maior parte
da árvore

garantia
que o tronco e a raiz
continuem
crescendo

imprevisíveis
e se encham
logo
de novo

de um peso
insustentável
ameaça
a própria morte

então
tirei uma foto
do cachorro
que estava

entre os galhos
e as folhas e os bagos
muito
satisfeito

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