segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Eu não conseguia viver com ninguém, então eu tive que me matar. A sobrevivência é nosso primeiro instinto, então eu tive que matar todo mundo. Lâminas, metralhadoras, os pais na mesa do almoço de domingo, o irmãozinho no berço, uma máquina assassina. Matei os vizinhos degolados, queimados, afogados, sem pressa e sem paciência, matei desconhecidos nas ruas. Delegacia de polícia. Usei gasolina, fósforo, sem imaginação, sem vontade de dar certo, sem preparo pro fracasso. Mas foi dando certo. Mas não teve fracasso. Dez, dez mil, dez milhões. Sete bilhões e meio de pessoas inocentes pisando esse chão, respirando esse ar. Não consigo viver com nenhuma delas.

Proliferação de animais carniceiros. Fim da emissão de gás carbônico, das usinas, fim da espera. Matei todas as pessoas do planeta. Sem arrependimento, sem desejo. Então os céus se abrem e Jesus Cristo desce em todo seu esplendor. Trombetas, arcanjos, prostitutas babilônias. Todos os alto-falantes do céu exaltam a sua glória. Ele é o caminho, a verdade, a vida. Só tem eu aqui, pra ver a sua segunda vinda. Meus pés se desprendem da força gravitacional. Passei a eternidade seguinte na presença de Deus. Deus, que é amor.

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