eu tenho na cabeça uma biblioteca de livros que só existem na minha cabeça e não vão encontrar nunca a prateleira de uma biblioteca concreta
nem sempre escritos por mim. alguns são de amigas e amigos. de gente morta e desconhecida. sou um editor prolífico
quando estou triste ou sem ter o que fazer, vou na biblioteca pra passear. fazia isso quando era adolescente e foi assim que descobri muita coisa. às vezes a biblioteca é a da minha cabeça
folheio as páginas inexistentes e volto de lá com mais fôlego
quando eu morrer, toda essa biblioteca vai desmoronar, transformar-se numa bola de fogo frio e invisível, não vai sobrar um átomo dela cuja história possa ser rastreada
é possível que alguém que leia estas linhas, então, me transforme em autor ou biografado ou editor de algum ou de alguns dos muitos livros que nunca sairão da biblioteca da sua própria cabeça
os livros têm uma vida que vai além da gente e a nossa vida vai além por causa deles
eles têm um jeito muito próprio de circular
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