uma confluência de químicos nativos da minha boca
me faz perceber a aspereza da língua a gengiva sangra
tenho medo dos cânceres escondidos a cada manhã
e de ser tão mau poeta quanto o presidente do Brasil
mas o medo não determina as minhas mordidas
atravesso as avenidas da cidade num ônibus que mal posso pagar
sobre rios fedidos da merda humana industrial dois mil e dezesseis
encontro amigos que limparão minhas feridas se o sarcoma me comer
nunca contei os dentes da minha boca e nem preciso
não conto os anos os dias são todos futuros
a vida se prende à jugular do passado estraçalha seu corpo gazela
frágil pulando nos prados o futuro é carnívoro
e os versos testemunham a cena são grandes mamíferos
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