quinta-feira, 26 de maio de 2016

os grandes mamíferos

uma confluência de químicos nativos da minha boca

me faz perceber a aspereza da língua a gengiva sangra

tenho medo dos cânceres escondidos a cada manhã

e de ser tão mau poeta quanto o presidente do Brasil

mas o medo não determina as minhas mordidas

atravesso as avenidas da cidade num ônibus que mal posso pagar

sobre rios fedidos da merda humana industrial dois mil e dezesseis

encontro amigos que limparão minhas feridas se o sarcoma me comer

nunca contei os dentes da minha boca e nem preciso

não conto os anos os dias são todos futuros

a vida se prende à jugular do passado estraçalha seu corpo gazela

frágil pulando nos prados o futuro é carnívoro

e os versos testemunham a cena são grandes mamíferos

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