sexta-feira, 26 de agosto de 2016

soneto do escritor bem-sucedido em seu jardim

sentado na garagem da casa que eu alugo
com meus dois cachorros sujos
roupas puídas chinelo furado
e um portão corroído de ferrugem

telefonando pra pedir dinheiro emprestado
fervendo água pro mate lavado
os livros empilhados no chão empoeirado
trinta anos e nenhum livro publicado

eu sou um sucesso
na longa linhagem de escritores que triunfam
no fracasso

pego com dedos leves as minhocas que tentam escapar
investigo a origem comum da alma dos animais e das estrelas
delicado e satisfeito devolvo elas pra terra

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