terça-feira, 14 de outubro de 2014

falésia

Não tinha uma linha oculta que trouxesse aquele corpo à pedra presa ao corpo do planeta e por isso fixa, enquanto o outro amontoado de matéria se diluía na distância, debatia-se ossos se expondo o vermelho pálido na espuma salgada do mar, a gente ficou vendo sem mãos que salvassem ninguém exceto a gente, presa no ar nos próprios pés, na sorte de não estar se afogando triturada num abismo próximo de quem nada pudesse fazer, é sorte. Ou a sorte outra, de virar aos poucos paisagem, dispersão não deve ter angústia, medo, desejo de calor de um corpo frio e morto, alimento de peixes de gaivotas e de gentes que comam peixes e gaivotas ou se alimentem dos animais que se alimentam desses, não é sorte a palavra. Minério, átomo, movimento sem começo, inércia e carbono acaso programado pra fugir do que ameaça, pra englobar o seu carinho e assim continuar, ele mesmo ou outro, vivo vivo. Preso à rede de linhas ocultas que nos prende ao tempo escuro, nenhuma delas livre ao contato da extremidade de um braço aberto em mão, em dedos que se agarram: à água, espatifados, a eles mesmos.

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