quando
o menino vê
que há uma calçada
do outro lado, ele corre
pra alcançá-la
ainda
que chegar não seja
um ponto de chegada
ele
alterna as pernas curtas
em passos que o encaminham
para
um destino longe dos meus olhos
e dos olhos dos meus cachorros
atentos, tanto eles quanto eu,
aos estalos provocados
pelo trote de um menino
indiferente à irrelevância
de correr
por diversão
então meus cães
indiferentes também eles
à tristeza
com que eu olho o menino
ir embora
põem-se a puxar
meus braços atrás
dos seus focinhos tão curiosos
e urgentes
como as pernas
dele
*
é urgente
respirar e é urgente
beber água e excretar
o que o teu corpo não
precisa ou digere, é
urgente que eu me encontre
entre a criança e os cachorros
prestes
a completar
trinta anos de olhos
pernas de corpo
e de nome, ricochete
entre as urgências
de outras pernas de meninos
de desejos
e cachorros, é urgente
que estes trinta, testemunhados
retornos do sol
em cima
encontrem
o tema de uma vida
entre carros e urgências
e meninos e
animais amarrados à coleira ao alimento
e aos rabos que abanam
irrelevantes e atentos
quando eu chego
*
entre os agasalhos de lembrança
da família e o salário recolhido
das feridas e os remédios ofertados
pelo programa nacional
de combate à aids
entre os livros e os beijos
e a poeira e o medo e
as frieiras e os conflitos
o dia racha
espaço pra nascer
o abismo raso
dos cachorros
o trote solto, ignorante
de um menino
e eu me encontro, perdido
entre eles
puxado de um lado para o outro
entre o futuro
a gravidade
as notícias
e a morte
entre os cachorros
e a empresa
e a família
e o desejo
de ter um filho
*
que todos
os bichos corram
sem ter onde chegar
e que ao chegarem
se esqueçam
do caminho que fizeram
e que respirem
por urgência
sem vontade de saber
(quanto menor o coração
mais depressa ele se move)
e que o destino feche os olhos
e deixe-se levar
pelos cachorros
o menino vê
que há uma calçada
do outro lado, ele corre
pra alcançá-la
ainda
que chegar não seja
um ponto de chegada
ele
alterna as pernas curtas
em passos que o encaminham
para
um destino longe dos meus olhos
e dos olhos dos meus cachorros
atentos, tanto eles quanto eu,
aos estalos provocados
pelo trote de um menino
indiferente à irrelevância
de correr
por diversão
então meus cães
indiferentes também eles
à tristeza
com que eu olho o menino
ir embora
põem-se a puxar
meus braços atrás
dos seus focinhos tão curiosos
e urgentes
como as pernas
dele
*
é urgente
respirar e é urgente
beber água e excretar
o que o teu corpo não
precisa ou digere, é
urgente que eu me encontre
entre a criança e os cachorros
prestes
a completar
trinta anos de olhos
pernas de corpo
e de nome, ricochete
entre as urgências
de outras pernas de meninos
de desejos
e cachorros, é urgente
que estes trinta, testemunhados
retornos do sol
em cima
encontrem
o tema de uma vida
entre carros e urgências
e meninos e
animais amarrados à coleira ao alimento
e aos rabos que abanam
irrelevantes e atentos
quando eu chego
*
entre os agasalhos de lembrança
da família e o salário recolhido
das feridas e os remédios ofertados
pelo programa nacional
de combate à aids
entre os livros e os beijos
e a poeira e o medo e
as frieiras e os conflitos
o dia racha
espaço pra nascer
o abismo raso
dos cachorros
o trote solto, ignorante
de um menino
e eu me encontro, perdido
entre eles
puxado de um lado para o outro
entre o futuro
a gravidade
as notícias
e a morte
entre os cachorros
e a empresa
e a família
e o desejo
de ter um filho
*
que todos
os bichos corram
sem ter onde chegar
e que ao chegarem
se esqueçam
do caminho que fizeram
e que respirem
por urgência
sem vontade de saber
(quanto menor o coração
mais depressa ele se move)
e que o destino feche os olhos
e deixe-se levar
pelos cachorros
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