vontade
de começar um novo blog
do mesmo jeito que escrever "vontade"
numa linha separada
leva a linhas nunca antes
navegadas, do mesmo jeito que fazer
uma rima
manjada
cria ecos dentro dos ouvidos
acostumados à dissonância
dos sentidos
*
saudade
do tempo em que eu pensava
"vontade"
e uma revoada de aves se mostrava
ao alcance do estilingue
hoje eu não mato aves
e tenho dúzias de estilingues
compro o frango resfriado com hormônios
na bandejinha de isopor do mercado
depenaram a morte pra mim
e quando como tenho azia
o meu corpo já não se faz mais
como antes se fazia
*
na casa de rejuntes e azulejos
ouço as vizinhas comentarem
os copos quebrados feito
um grande acontecimento
deus do céu que abandonaste
estas paragens da galáxia há tempos
e fazia de mim um vaso novo
hoje me dá copo quebrado ao lixeiro
tenho trinta e um anos neste corpo
estilhaçado em cansaços e desejos
nenhum deles agora igualado
ao interesse por esse copo quebrado
*
ano que vem já começou
me fotografa quase no meio
do caminho desta vida
a segunda metade vai ser
ainda mais demorada
que esta
se o paradoxo de zenão
estiver enfim
correto
(deus
queira
não)
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