segunda-feira, 31 de outubro de 2016

a tempestade

faço
às pressas
um relatório sobre literatura
para um congresso de estudos literários
que se realizava numa cidade litorânea
entre as mais bonitas do planeta
e em nenhum momento fomos para a praia

as ondas revoltas
desenhadas por Hokusai comendo o Fuji
enfeitam minha parede sobre o calendário de outubro
tirando um sarro que o tempo passa
e só a praia é praia
mas mesmo a água
parada
é perigosa

será que estes momentos
burocráticos
curvado de cueca sobre a cama
vão se tornar a concha
em que
um dia
darei à luz
alguma pérola?

espíritos
dos artistas mortos não me deixem
por favor
sucumbir ao peso dos prédios
e das viaturas policiais
as sirenes amaldiçoam
na rodovia mais próxima

que o canto
mudo
maravilhoso
das sereias
me arraste

aonde eu nem sei

se
existe

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