segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

the man i love

Um prédio de todos os andares, os carros a janela passando lá embaixo trazendo sons de ida e vinda aqui pra cima, e os homens recortados no site do outro lado: em camisas, sem camisas, se eu medisse todos os pênis desse prédio a altura alcançaria? Toma chá agarrado à cortina, crequelenta de semanas de porra seca, precisa lavá-la. Depois se veste e desce e anda e verbos até que dentro do escritório, de novo e sempre a rola dura apertando o coração, querendo escapar de calças e cadeiras, das horas de almoço, no escuro do cinema entrando em bocas e bundas e conchas de mãos, o amor é um picadinho, um chapéu na cabeça umedecido da garoa, vapor de virilha subindo e ofuscando a visão, volta pra casa, um casarão, para a esposa e os filhos e as cortinas, sobe nela uma vez por ano e se alivia quando engravida, medo nos becos, nos parques, na cidade que se acumula sobre si como um prédio de apartamentos cheios de picas moles dentro. Então acorda e bochecha a água branca e corre para a redação e datilografa o que chega da coluna policial, e não responde às brincadeiras e sai e encontra o cara do site e fode e volta resmungando "The man I love", dorme entre os irmãos na esteira sobre o chão e sente pressionando entre os quadris essa canção desconhecida, não sabe uma palavra em língua inglesa.

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