quarta-feira, 5 de novembro de 2014

a bola de neve do demônio

Uma sombra passou diante dos olhos e foi sugada pela distância. Quando olhou pra baixo, sua sombra não estava mais ali. Saiu correndo atrás daquela que pensava ser ela, e que devia ser, porque todas as pessoas têm suas sombras presas no chão, grudadas nas paredes, nadando diluídas na água. A luz do sol alto queimava os prédios e o asfalto. A sombra fugida era veloz e nunca mais foi vista.

Todas as sombras passaram diante dos olhos. Como se um ralo aberto de luz tragasse elas. E as pessoas correram atrás de suas sombras e se amontoaram nas esquinas, várias morreram pisoteadas. Notícia que não daria em nenhum jornal. Os jornalistas, correndo atrás de suas próprias sombras, não compareceram às redações. O dono do jornal estava em sua sala acolchoada e não percebeu nada.

Ninguém é mais rápido que a escuridão. Nem eu. Em algum lugar incógnito, as sombras de todo o mundo se acumulam, se amontoam e formam um novelo escuro e crescente. A bola de neve do demônio. Que vai nos soterrar quando estivermos, dia claro, procurando no chão a noite que vem do alto.

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