segunda-feira, 4 de julho de 2016

tudo o que se escreve
o que se canta o que se dança não adianta

onze mil pessoas
marcharam em toronto
três milhões e meio
pelas ruas de são paulo

se somos
dez por cento
de sete bilhões
no planeta
faça as contas:
não tem
regra de três
que te traga de volta

nem pronome
oblíquo átono
que sustente
tanto nome à revelia
em certidão de óbito

textos de luto
poemas fúnebres
foda-se

gritar
não esqueceremos
de vela na mão
nós esquecemos

pesquisadoras da mesma universidade em que você foi morto
encontraram oitenta e seis bilhões de neurônios no cérebro humano

bem menos
que os cem bilhões
que acreditávamos ter

tivéssemos
trilhões ou mais, talvez
soubéssemos dos assassinos
até a preferência
do almoço da família um dia antes
de abaixar as suas calças, de te dar
de bruços, de graça, pra noite, pra sempre

mães de todos os continentes choram filhos mortos
saturno mastiga a gente antes do futebol de sábado
no sábado encontrarei amigos e seu nome passará

entre uma mordida e outra
a língua desvia-se dos dentes

ninguém te soletra no entretempo

estatísticas tecem a rede que prende
o anjo que olha as ruínas do foda-se
outras letras com seus nomes vão morrendo
que nem os neurônios

com o tempo

eles não se regeneram

temporada de caça sempre aberta

no escuro os viados se encontram nos campos

pululam a última da lady gaga

e quando se tocam a luz que sai do corpo

deixa a gente exposta acende várias lâmpadas

o nome disso tudo não tem nome

chama sinapse fluorescência

diego vieira machado

etc.

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