tudo o que se escreve
o que se canta o que se dança não adianta
onze mil pessoas
marcharam em toronto
três milhões e meio
pelas ruas de são paulo
se somos
dez por cento
de sete bilhões
no planeta
faça as contas:
não tem
regra de três
que te traga de volta
nem pronome
oblíquo átono
que sustente
tanto nome à revelia
em certidão de óbito
textos de luto
poemas fúnebres
foda-se
gritar
não esqueceremos
de vela na mão
nós esquecemos
pesquisadoras da mesma universidade em que você foi morto
encontraram oitenta e seis bilhões de neurônios no cérebro humano
bem menos
que os cem bilhões
que acreditávamos ter
tivéssemos
trilhões ou mais, talvez
soubéssemos dos assassinos
até a preferência
do almoço da família um dia antes
de abaixar as suas calças, de te dar
de bruços, de graça, pra noite, pra sempre
mães de todos os continentes choram filhos mortos
saturno mastiga a gente antes do futebol de sábado
no sábado encontrarei amigos e seu nome passará
entre uma mordida e outra
a língua desvia-se dos dentes
ninguém te soletra no entretempo
estatísticas tecem a rede que prende
o anjo que olha as ruínas do foda-se
outras letras com seus nomes vão morrendo
que nem os neurônios
com o tempo
eles não se regeneram
temporada de caça sempre aberta
no escuro os viados se encontram nos campos
pululam a última da lady gaga
e quando se tocam a luz que sai do corpo
deixa a gente exposta acende várias lâmpadas
o nome disso tudo não tem nome
chama sinapse fluorescência
diego vieira machado
etc.
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