quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

o último governador do planeta

O governador Geraldo Alckmin tem tido muitos pesadelos. Esta noite ele sonhou que o estado de São Paulo estava em chamas. Quando acordou, no lugar de lençóis de algodão egípcio um palácio o protegendo contra o tempo, um cheiro de fumaça em volta e dificilmente a gente sonha com cheiros, dor também não sonha, que nem essa micose ardida de repente entre dois dedos do pé direito de um homem que comanda exércitos, quem diria, os fungos não te obedecem.

E foi levantando devagar entre os escombros, sangue desconhecido em volta, onde estão os assessores, secretários, seguranças? Onde está o helicóptero, o estado de São Paulo, a cama, o governador Geraldo Alckmin tenta dormir de novo, às vezes quando você dorme acorda dorme tudo volta a ser o que era, um homem negro e uniformizado traz uma bandeja de prata com a cabeça dos inimigos, no pijama listrado o governador quer mover as mãos feito maestro de orquestra a bandeja é maior do que a região de Pindamonhangaba, e as cabeças dos inimigos sobem aos céus um edifício de vitória.

Mas não esta manhã, Geraldo Alckmin descalço com micose andando em brasas, até onde o olho alcança, tudo é o seu reinado, e é um horizonte sujo terraplanado, onde está a grandeza do estado de São Paulo, a tropa de choque atacando a cheia do Tietê, onde estão as águas, os amigos felizes, os obedientes, os pés tropeçam em ferros retorcidos no que antes era um asfalto liso e lindo, cinza como os seus mais belos sonhos.

Andando horas em busca de comida, de uma garrafa de água mineral, de alguém que diga "sim, senhor", "sim, senhor governador", o governador Geraldo Alckmin enfim encontra uma protuberância no seu medo, e se aproxima: numa cova cavada fundo, 14 milhões de cabeças sem corpo, e é só olhar de perto: cada uma é a cabeça do governador Geraldo Alckmin. Aturdido, inconformado, ele se deita e está cansado, e enfim dorme, e tem um sonho:

A salvo novamente no palácio, todos o olham de novo prontos, satisfeitos. Um homem negro uniformizado entra. E uma brisa fria faz cócegas no seu pescoço.

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