quarta-feira, 22 de junho de 2016

os meus cachorros devem me ver escrever
que nem os latidos pro nada a corrida sem sentido dos gatos
minhocas que querem escapar da composteira apesar de estarem no ambiente certo e com bastante comida

me pergunto se esse urubu voando em círculos sobre a nossa cabeça tem algum sucesso na sua busca
se aquele gambá que vi na beira de estrada no ano passado subido na árvore
tinha filhos e desejo de vê-los vivos

nessa curta vida devo ter escrito mais palavras do que a atual população de gambás do planeta
se amarrassem elas nos rabos dos bichos que incômodo seria se moverem

convivo com prazer incomodado entre os animais que sobreviveram à minha presença
e escrevo sem saber de mim mais do que sei dos meus companheiros
do mesmo jeito que observo meus cachorros latindo para o nada
e a corrida sem sentido dos gatos

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