domingo, 24 de janeiro de 2016

domingo

Eu era acordado pela minha mãe
pra que pusesse a melhor das roupas
Deus não merece menos
a gente ia pra igreja na carroceria cheia de graxa
da caminhonete do meu pai sentados em cima de um papelão pra não sujar
a melhor das roupas

Hoje eu acordo no horário em que sairia do culto
sonho com a polícia militar e acordo com o barulho dos meus cachorros e dos passarinhos no mamoeiro
e lembro de Deus quando vejo as hastes secas
fechadas em si mesmas do vaso de capim-cidreira
faz dois dias que esqueço de regar

Quando a terra encharca de água
proveniente do sistema estatal de abastecimento hídrico do estado de São Paulo
pouco tempo depois as folhas do mato inflam e retomam a vida de onde
haviam parado

Deus é a caminhonete
a graxa
o chamado da minha mãe
a água e a polícia e o regador
o sonho e o esquecimento e a igreja
a melhor roupa e a camiseta esburacada
que eu visto agora porque me faltam outras
e o sol forte que seca as plantas
desamparadas

Eu sou o capim-cidreira

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