quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

querido tempo

da ponta do dedo
pras células moléculas
e átomos e campos
magnéticos

um dedo
nunca toca
nada

porque as partículas
quando se aproximam
se afastam

*

mas a gente
não sente
em nível atômico

ou estaríamos com vertigem
o micromundo se movendo
o tempo todo

eu deitado
ao meio-dia me escondendo
do futuro um lençol na cabeça

vomitaria
nauseado
movimento

em vez disso
guardo todo o suco gástrico entre as paredes
incrivelmente imunes
do meu estômago

*

a gente também não sente
no nível macro entre as estrelas
a escura matéria que intriga astrofísicos no século de Einstein

ela é invisível e intocável pra alguém tão preso
à atmosfera e ao funil no tempo-espaço
que se chama por aí de gravidade

uma queda
infinita

com o peso de uma atmosfera sobre a cabeça
e o peso de um planeta
sob os pés

uma queda
imóvel

nesta cama de lençóis cheios de ácaros
me identificando a um corpo variado
em seus espaços e nos sólidos
incógnitos

*

querido tempo
que me aperta
em mim mesmo

e atravessa
os lugares vácuos
que eu não conheço

chegue súbito
feito um
pombo-correio

e me entregue
uma mensagem
diferente

orgasmo
equilíbrio
esquecimento

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