da ponta do dedo
pras células moléculas
e átomos e campos
magnéticos
um dedo
nunca toca
nada
porque as partículas
quando se aproximam
se afastam
*
mas a gente
não sente
em nível atômico
ou estaríamos com vertigem
o micromundo se movendo
o tempo todo
eu deitado
ao meio-dia me escondendo
do futuro um lençol na cabeça
vomitaria
nauseado
movimento
em vez disso
guardo todo o suco gástrico entre as paredes
incrivelmente imunes
do meu estômago
*
a gente também não sente
no nível macro entre as estrelas
a escura matéria que intriga astrofísicos no século de Einstein
ela é invisível e intocável pra alguém tão preso
à atmosfera e ao funil no tempo-espaço
que se chama por aí de gravidade
uma queda
infinita
com o peso de uma atmosfera sobre a cabeça
e o peso de um planeta
sob os pés
uma queda
imóvel
nesta cama de lençóis cheios de ácaros
me identificando a um corpo variado
em seus espaços e nos sólidos
incógnitos
*
querido tempo
que me aperta
em mim mesmo
e atravessa
os lugares vácuos
que eu não conheço
chegue súbito
feito um
pombo-correio
e me entregue
uma mensagem
diferente
orgasmo
equilíbrio
esquecimento
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