quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Eu disse que a noite era líquida. Ele não acreditava. Nadei pra longe e ouvi o nariz se afogando em borbulhas. Reconheci umas sílabas. "Que nada!"

*

Meus braços cansados e um medo de tubarões, são noturnos os terrores da noite? Li que eles comem às cinco da tarde. Deixo a cabeça meio erguida, pra que a noite não entre no meu nariz. E flutuo na superfície de quilômetros, escuro. 

*

As horas antes do dia
se iluminam
com a mesma melancolia
do crepúsculo

Mas são mais frescas
derrotadas
as horas antes do dia.

*

Essa praia serve, porque agora o profundo acorda. Tenho medo de ser comido. A televisão me informa: tem animais caçando. O. Tempo. Todo. Desenho na areia uma silhueta do meu amigo afogado na noite. O dia é seco e chato. As ondas lambem as pernas dele e levam elas embora. Eu queria ser as ondas.

*

O planeta
você sabe
é simultâneo
a si mesmo
não conhece
o absoluto
escuro ou claro
tem uma face
esférica
voltada
pra todos 
os lados

*

Deus
é luz

Estou
à sombra
do Pai

Por que
não Se
move

Por que
não some
Senhor?

E a luz
de Deus
distante
deixou
de iluminar

Agora
a nossa cegueira é mais pura
solitária
é só nossa

Era esse escuro
que você queria?

A noite, de novo
nos molha.

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